Imaginem uma parede de fundo de pé direito alto, coberta de gavetas de madeira com puxador tipo bola, geometricamente distribuídas de alto a baixo. As gavetas do amor. Podemos organizá-las em diversas categorias e classificá-las quanto à dimensão, acessibilidade e estado.
Dimensão, mais correctamente o volume, é definida em função do conteúdo e informação existente ou remanescente. As histórias, o sentido, as experiências, o amor ou paixão, que existiu ou que ainda existe. Interesse, atracção, amizade forte, desencontros, admiração ou simplesmente cumplicidades platónicas. A grandeza destes sentimentos definem o peso da estrutura, a densidade da madeira, a qualidade dos materiais, das guias e dos batentes da gaveta.
Acessibilidade: Existem paixões, amores ou outros sentimentos que tentamos organizar mentalmente por hierarquias ou esquemas. Inconscientemente ajudamo-nos a nós próprios a fazer determinadas escolhas. Ora bem, este vai para ali, aquele fica aqui em baixo, e este…este de que tanto preciso fica mesmo já aqui à mão. É quase como organizar roupa ou a loiça da cozinha. As paixões das nossas vidas, aquelas que não tiveram continuidade e que por uma razão já quase desconhecida foram interrompidas num determinado momento e mal resolvidas. Essas ficam lá em cima, bem guardadas, no topo da hierarquia. São as mais recordadas e ansiadas, mas ficam por lá, não as queremos abrir, não as podemos abrir, ficam fechadas, quase eternamente fechadas, mas quase todos os dias olhadas.
Ainda lá no topo poderão ficar aquelas relações terríveis conflituosas, dramáticas ou quase violentas. Deviam ficar localizadas nos extremos. Estão lá em cima, fechadas, trancadas, e a um canto. Não vale a pena olhar, nem recordar.
Depois há aquelas que ficam mesmo cá em baixo, ao nível dos pés, vistas com carinho, mas com pouca importância sentimental. Recorremos a elas em momentos de crise. Puro egoísmo talvez, mas necessário.
As diárias, de uso corrente, estão quase sempre abertas, ou meio abertas. Usamo-las todos os dias. Há dias k nos chateiam e decidimos fechá-las, encostá-las…3 dias depois há k abrir de novo por falta de combustível. São as gavetas de acessibilidade imediata, estão localizadas ao nível do nosso tronco. Abrem-se e fecham-se todos os dias.
Estado. Lá está! Se estão abertas, fechadas, semi abertas, fechadas há um ano, dois, três, trancadas ou não, com chave guardada ou intencionalmente perdida. As relações de topo estão trancadas e com chave. Nunca se sabe, em que altura das nossas vidas poderá ser alvo de referência, numa ou noutra situação. Experiências que podemos transmitir aos outros, ou até quem sabe mais tarde aos nossos filhos. Existem aquelas k estão lá em cima no canto, trancadas com chave perdida. São aquelas a que nem a nós próprios confessamos o que sentimos. Lá ficam…
Finalmente, as que estão permanentemente abertas, comodamente e confortavelmente abertas…é o amor em toda a sua plenitude. E as que estão abertas, persistentemente abertas, condenadas a serem fechadas.
As minhas estão uniformemente distribuídas. Há as de topo, as médias e as de cá de baixo. Todas elas fechadas, trancadas ou não. Resta uma que se vai abrindo e fechando todos os dias, sofre de um desgaste rápido, estando condenada a fechar-se....
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